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Agarre o bastão da saúde

                                                                           
Segurar o bastão da saúde é ter uma postura ativa na adesão ao tratamento
 (fonte : portaldoprofessor.mec.gov.br)
  


 Você já teve a oportunidade de assistir a uma prova de revezamento? É muito emocionante, pois se trata de um trabalho de equipe. Há quatro atletas na equipe; todos correm segurando um bastão e os participantes têm que passar o bastão, portanto, são três passagens . Todos devem dar o máximo de si para que a equipe possa chegar à vitória. A prova de revezamento é um exemplo bastante didático para mostrar a você como deve ser sua atitude diante de sua própria saúde.  A passagem do bastão exige uma postura responsável de quem vai segurá-lo. No caso da sua saúde, poderíamos comparar o bastão à atitude de adesão às indicações que você recebeu da equipe de profissionais que analisaram seus problemas. 
                                                                               
O paciente é parte ativa da equipe que trata da saúde dele (fonte : imovbsb.com)

    No ensaio denominado " Por que os pacientes não aderem  ao tratamento" de autoria de Priscila Nunes Porto e Silier Andrade Cardoso Borges,  que objetiva desenvolver uma reflexão sistemática sobre a adesão ao tratamento por usuários do Sistema Único de Saúde (SUS - Brasil)) podemos encontrar um enfoque mais aprofundado sobre essa questão: Embora muitos profissionais relacionem adesão ao seguimento estrito da prescrição de medicamentos, a definição de adesão aos tratamentos crônicos ressalta outras dimensões, como o grau de comprometimento de uma pessoa, representado pela adoção da dieta e da orientação dos profissionais de saúde, bem como da mudança nos estilos de vida individuais. A adesão visa à melhora da saúde via redução dos sinais e sintomas da doença. A adesão distingue-se do compliance, compreendido como obediência participativa do paciente à prescrição médica. No contexto atual, o paciente tende a ser visto meramente como objeto da intervenção terapêutica tecnicista. 
    Tal intervenção terapêutica tecnicista  ocorre quando o profissional que trata o paciente enxerga a solução ou o tratamento, orientando-se exclusivamente pelos recursos técnicos como exames e drogas, sem avaliar a importância das terapias não medicamentosas para a melhora do paciente, como mudança de hábitos alimentares e atividade física, por exemplo. Há ainda outras centenas de terapias de apoio, por isso é importante que haja sensibilidade do profissional para que possa compreender melhor o paciente; para um existe um tipo de tratamento, para outro paciente, outro tipo. Trata-se de uma visão mais humanizada e mais individualizada, que pode  ir mais rápido e mais longe, sendo igualmente científica. Todo mundo gosta de ser tratado com carinho e com respeito, talvez esteja aí a chave da questão.

  Mais do que simples concordância do paciente frente ao tratamento estipulado pelo profissional de saúde, o conceito de adesão implica postura ativa frente ao autocuidado.

    Dotado de diferentes níveis, a adesão varia do nível mais elevado ao menos elevado. No primeiro localizam-se os aderentes, pacientes que seguem totalmente o tratamento e, no segundo, os desistentes, que os abandonam. Os persistentes compõem uma modalidade de não aderentes que comparecem às consultas, mas não seguem o tratamento . A baixa adesão ao tratamento comumente se refere às doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes, dentre outras".

    A questão é muito preocupante, pois cada uma dessas doenças acaba desembocando em doenças mais graves, que, muitas vezes, podem conduzir à morte.
                                        
                                                                           
A equipe brasileira levou a medalha de prata na prova de revezamento dos 400m
(fonte:wwwbrasil2016gov.br
)
                 
   Vamos voltar à prova de revezamento : imagine que você é o último dos atletas desta disputa e que o bastão é a sua própria saúde. O primeiro atleta da prova foi o médico que você consultou para saber o que havia de errado com sua saúde. Vamos imaginar que o médico detectou alguma anomalia e pediu que você fizesse uma série de exames. Resultados prontos, você retornou ao consultório. O médico disse que seria oportuno que você passasse por um nutricionista para realizar uma dieta a fim de perder massa gorda. Você não achou muito divertido, mas obedeceu. O nutricionista fez os cálculos e determinou uma dieta, indicando que você escolhesse uma modalidade esportiva para praticar, pois isso aceleraria os efeitos da dieta. Você não achou nada divertido, mas acabou matriculando - se em uma academia. Comprou tênis, roupa adequada e foi...por duas semanas. Bem, não sei se esse foi o seu histórico. O que sabemos é que 75% dos pacientes deixam o bastão cair, depois de fazer boa parte do percurso. Na prova de revezamento, o atleta que deixa cair o bastão têm  a chance de tornar a pegá-lo, sem desclassificar a equipe. Ainda bem que há essa oportunidade! Com você deve acontecer a mesma coisa : se você descuidou, recupere essa possibilidade e agarre o bastão da saúde!
                                                                               
Cada um com a atividade física que preferir....(fonte wwwzimbio.com)
    É bonito falar, é gostoso sonhar com os resultados. Talvez não seja tão difícil começar. Mas já é um primeiro passo. Para dar o primeiro passo, é preciso determinar o percurso. E aí  podem começar os questionamentos: 

1) Tomar os remédios que foram indicados já não é suficiente ? 
   Para  muitos pesquisadores os pacientes que usam medicamento tendem a aderir menos às mudanças no estilo de vida, pois acreditam que o uso das drogas é suficiente para resolver os problemas de saúde apontados pelo médico. Este comportamento é de fato preocupante, tendo em vista que os objetivos do tratamento não medicamentoso não são um adendo do tratamento como um todo e, muitas vezes, são exatamente as mudanças no estilo de vida que podem proteger o paciente de graves riscos, como por exemplo, o infarto.

2) Tenho mesmo que mudar meu estilo de vida ? 
  Muitos profissionais da área da saúde já detectaram que os pacientes relacionam o tratamento à mudanças difíceis no cotidiano, como restrições alimentares, de lazer e trabalho. Sacrifício... talvez seja uma questão de perspectiva : uma mulher pode não ver nenhuma dificuldade para acordar às três da manhã, pegar o carro e ficar na porta da loja que vai fazer uma mega liquidação a partir das  nove horas da manhã....

3) Como explicar essas mudanças de rotina para minha família ? 
   Talvez você precise contar com a compreensão e o apoio da família. Seria ótimo que isso acontecesse, mesmo porque toda família pode beneficiar-se ao adotar um estilo de vida mais saudável, aderindo à prática de exercícios físicos e  à alimentação balanceada. Entenda-se aqui por alimentação balanceada aquela que o nutricionista recomendou : frutas, verduras, legumes,  leguminosas, carne bovina, suína, frango, peixes, ovos, cereais...a comida que você pode elaborar em casa, evitando temperos e molhos prontos, cuidando para não exagerar no sal, na gordura e no açúcar. A tônica é o equilíbrio. Vale também, se você não sabe, tentar aprender a cozinhar...bem...  

4) Atividade física faz bem mesmo ?
   Desta vez eu é que vou passar o bastão e pedir a um cardiologista que explique : "A grande maioria dos estudos realizados com o objetivo de determinar o papel da atividade física em relação à saúde demonstrou que a prática de exercícios regulares em bases crônicas aponta para um benefício real. Genericamente, um efeito protetor contra doenças crônico-degenerativas, especialmente as de origem cardiovascular, pode ser esperado.
  Muitos pesquisadores sugerem que o exercício físico regular seja capaz de ter impacto significativo sobre a prevenção e/ou controle da hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus não insulino-dependente, dislipidemia, obesidade, osteoporose, asma brônquica e outras doenças pulmonares, além de poder diminuir sintomas depressivos e de ansiedade. 

  Existem evidências de que ao exercitar-se o indivíduo assume uma postura positiva em relação a outros fatores de risco, procurando assumir um hábito de vida mais saudável. Logo, ao engajar-se em um programa de atividade física, exercitando-se de forma regular, o praticante passa a dispor de um aliado. Isso pode ser mencionado, uma vez que existe uma relação inversa entre a prática de exercícios físicos e diferentes hábitos não recomendáveis em se tratando de saúde. O exercício pode ter um impacto sobre o tabagismo, sobre a ingestão calórica inadequada, sobre o estresse exagerado, além de poder atuar sobre a dependência de álcool e de drogas psicoativas". Esse trecho faz parte do texto "Atividade física e saúde Pública", de autoria do Dr. Ricardo Stein. Se você está em dúvida sobre o que disse o médico, dê uma olhadinha no currículo: médico formado pela PUCRS (1992) e Educador Físico formado pela ESEF-IPA (1987). Tem Residência em Cardiologia na PUCRS (1995) e Mestrado e Doutorado obtido na UFRGS (1997 e 2002). Também possui formação em Cardiologia do Exercício e do Esporte: Stanford Universty (Palo Alto/EUA), Genética Cardiovascular: Universidad Coruña (La Coruña/Espanha) e Pós Doutorado I (1 ano  em 2009) e Pós Doutorado II (1 ano em 2015). Possui certificação em Habilitação em Ergometria e Ergoespirometria pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (1998). Acumula 25 anos de experiência na Medicina e 30 na área da Educação Física. Área de atuação: Cardiologia e Medicina do Exercício e do Esporte; Genética Cardiovascular.
                                                                           
Se eu fosse você escolheria alguma atividade mais tranquila (fonte : wwwgermanytravel)
4) São só benefícios ou pode haver algum risco na prática de exercícios ?
   O bastão segue com o mesmo médico: "é importante frisar que a prática de exercícios também possui seus riscos. Traumas mecânicos, alterações metabólicas, além de problemas psicológicos, podem advir da atividade física realizada de forma inadequada. O supertreinamento, assim como esforços vigorosos realizados por pessoas não aptas, pode resultar em verdadeiras catástrofes.
  A ocorrência de morte súbita relacionada com os esforços também tem sido observada, principalmente em praticantes de exercícios aeróbios de longa duração. Portanto, embora o exercício seja considerado um fator de proteção para a doença arterial coronária, ele não "imuniza" o indivíduo contra tal enfermidade. Logo, cabe salientar que, se a atividade física intensa tem o potencial de aumentar transitoriamente o risco de morte súbita, a atividade física realizada de forma regular compensa esta possibilidade, o que se traduz em redução do risco global para morte súbita ".

5) E como eu devo começar esse programa de atividade física ? 
 " Na prática, recomenda-se que todo e qualquer programa de exercício inicie com um período maior ou menor de adaptação, já que toda experiência nova requer aclimatação gradual. Um período variável entre uma e quatro semanas costuma ser suficiente. É por demais importante que a escolha do tipo de atividade física a ser desenvolvida seja feito de acordo com o gosto do participante. Dessa forma, ao serem respeitados os princípios da adaptação e da individualidade biológica, a aderência à prática regular e crônica da atividade física passa a ser facilitada. A intensidade recomendada deve variar, no mais das vezes, entre 60 e 85% da freqüência cardíaca máxima prevista para idade (calcula-se FC máxima em batimentos por minuto como sendo 220 menos a idade). Na prática, pode-se utilizar a escala de percepção do esforço de Borg ou simplesmente procurar exercitar-se de forma que o indivíduo se sinta algo fatigado, mas não exausto.
  Para que os benefícios da prática de exercícios sejam otimizados e os riscos diminuídos, recomenda-se avaliação médica prévia ao início do programa. Já naquelas pessoas com sinais e/ou sintomas que sugerem possível doença cardíaca, o encaminhamento ao cardiologista, para avaliação mais detalhada, é recomendável ".

6) Já comecei muitas vezes...e também parei. O que tenho que fazer para ser tenaz nessa minha decisão ?    
        Agora eu peguei o bastão. Em primeiro lugar, você tem que ter certeza que é mesmo sua essa decisão. Alguém pode dar um conselho, ou sei lá, dar uma opinião a você. Uma coisa é aquilo que alguém aconselhou, outra coisa é que você concorde e faça dela a sua própria ideia. Essa é uma das características dos japoneses, que costuma fazer deles tão tenazes: são independentes. São criados desde a mais tenra idade para cuidar de si mesmos.                        
                                                                                                                                                                      
As crianças japonesas vão à escola sozinhas, apenas orientadas por um adulto
(fonte: skdesu.com)
   
   Dos japoneses você também pode aprender a trabalhar com muito afinco em suas metas. Isso significa enfrentar os sacrifícios, vislumbrando os benefícios.
  Com os japoneses você pode admirar o que chamam de haji, uma certa vergonha moral. Vergonha teríamos que ter de deixar-nos dominar pela preguiça ao invés de seguir as recomendações que recebemos da equipe que cuida de nossa saúde.
 Os japoneses também sabem trabalhar em equipe. A família é uma bela equipe se passa a compreender como  é importante cuidar da saúde de cada um de seus membros. Você também faz parte de outra equipe : é um dos participantes da equipe de revezamento responsável por sua saúde. Como você é o último na sequência da prova, pode colocar em risco o trabalho da equipe toda ou, pode também dar o máximo de si e levar a equipe à vitória. Como nesta única prova, que é o desempenho de sua saúde, não há equipes concorrentes, basta que você tenha uma postura decidida para conseguir a premiação. O prêmio merecido de ter uma saúde em dia por ter se comprometido em levar a sério o seu autocuidado, sem precisar de nenhuma babá.
                                                                                 
As crianças japonesas são responsáveis pela limpeza da escola (fonte : www.japãoemfoco.com )


  E por último : aprender a deixar tudo organizado. No Japão as crianças limpam a sala de aula. Assim, se você escolher como prática esportiva a musculação, guarde os pesos e anilhas no lugar; se for a natação, deixe lavado e em ordem seu maiô e touca . Se por acaso, você queira praticar o hipismo, nem queira saber o trabalho que vai dar para cuidar do cavalo... 
                                                                                     
O hipismo pode ser atraente mas exige que você cuide do cavalo (fonte : wwwkampos.co.uk)
                                                                 Vocabulário 

complaince - o termo compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido.



 dislipidemia - colesterol anormalmente elevado ou gorduras (lipídeos) no sangue.


diabetes mellitus é uma doença do metabolismo caracterizada pelo excesso de glicose no sangue e na urina, que surge quando o pâncreas deixa de produzir ou reduz a produção de insulina, ou ainda quando a insulina não é capaz de agir de maneira adequada.O diabetes pode ser classificado, de acordo com sua patogênese, em:
  • Diabetes mellitus tipo 1 ou insulinodependente; Diabetes mellitus tipo 2 ou insulino resistente (fonte : wwwsignificados.com.br )

ingestão calórica não adequada -  para que a pessoa tenha a energia suficiente para conseguir cumprir as atividades diárias é preciso que haja a ingestão de calorias proporcionais às que gasta no dia a dia; o excesso é prejudicial, bem como o tipo de alimentos que o indivíduo escolhe. É preciso buscar alimentos saudáveis, como aqueles indicados pelo nutricionista.

escala de Borg ou tabela de Borg  - é uma escala criada pelo fisiologista sueco Gunnar Borg para a classificação da percepção subjetiva do esforço. Numa escala numérica de 0 a 10 readaptada da original que ia de 0 a 20, o indivíduo utiliza a escala para apontar sua própria percepção de esforço.                                    

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