Morita Mitsu, competindo aos 96 anos fonte: br.pinterest.com |
Ruth Ferreira Santos Galduroz
graduada em Psicologia, Doutora em Ciências,tem pós-doutorado em Neurociência,sendo os dois últimos títulos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Hanna Karen Moreira Antunes
graduada em Educação Física e Doutora em Ciências pela Unifesp
Marco Túlio de Mello, graduado em Educação Física e doutor em Psicobiologia pela Unifesp ; tem pós-doutorado em Ciências da Saúde pela Unifesp
Ricardo Cassilhas
graduado em Educação Física e doutor em Ciências pela Unifesp
Ronaldo Vagner Thomatieli dos Santos, graduado em Educação Física e doutor em Fisiologia pela Universidade de São Paulo, USP
Orlando F.A. Bueno psicólogo, mestre em Farmacologia e doutor em Psicobiologia pela Unifesp
Algumas pessoas têm verdadeiro horror de academia, de musculação, de gente bombada ou sarada. É verdade que não é nada agradável ver alguns tipos frequentadores de academia desfilarem o preparo físico, que muitas vezes parece ser produzido artificialmente. Mais desagradável ainda, é ver garotinhas metidas a modelo e senhoras de meia idade travestidas de adolescentes querendo provocar a atenção com atitudes e roupas chamativas.
Outras pessoas não só odeiam tudo isso, como sentem aversão a qualquer atividade física, acreditando que não é coisa para quem usa o cérebro.
Contudo, para o bem da saúde, é necessário deixar os preconceitos de fora. Não é só gente sem cérebro que frequenta academia. Talvez esse preconceito exista porque costuma ser um ambiente que reúne gente que cultua a boa forma física e parece viver mais preocupada com a aparência física do que em ter saúde e bom condicionamento cardiovascular e, muito menos, em exercitar o cérebro para aumentar o conhecimento e a sabedoria de viver. O fato é que sendo um local propício à pratica de exercícios, incluindo a musculação, há gente com vários tipos de interesse: uma parte, talvez não a maior, preocupa - se mais com o fator estético, mas há muitas pessoas que estão ali para melhorar a saúde e o condicionamento cardiovascular e assim, ter mais qualidade de vida. A musculação é uma atividade física das mais recomendadas por cardiologistas e, mais recentemente por alguns neurologistas, pois há indícios de que propicia o bom desempenho cerebral, embora esse fato não tenha sido especificamente comentado no estudo abordado nesta postagem E o exercício físico em geral não só não é inimigo como pode ser o maior amigo daqueles que precisam usar a cabeça para ganhar a vida. Vamos aqui exercitar o cérebro, para conscientizar você de como o exercício físico pode ser seu grande aliado...
Apesar do cérebro não parecer um dos órgãos mais fascinantes do nosso corpo, não é exagero considerá-lo como o órgão mais importante do corpo humano.
Ele é imóvel e representa apenas 2% do peso do corpo, mas, apesar disso, recebe aproximadamente 25% do sangue bombeado pelo coração. A singularidade do cérebro humano deve-se à dimensão relativa do córtex cerebral (a fina camada cinzenta que recobre o cérebro e é uma das regiões mais importantes do sistema nervoso central): “o homem é o animal em que, relativamente à dimensão do corpo, a espessura cortical é maior”, o que leva o cérebro humano a apresentar um maior grau de desenvolvimento. Na espécie humana, o seu peso é de, aproximadamente, 1400 g, sendo um pouco menos pesado no sexo feminino. O córtex cerebral humano distingue-se ainda pela enorme quantidade de circunvoluções e sulcos que possui. Estes aumentam a superfície do córtex, permitindo que uma quantidade máxima de massa cinzenta se encontre dentro dos limites rígidos da caixa craniana ( fonte weebly.com)
"Entende-se por função cognitiva ou sistema funcional cognitivo
as fases do processo de informação, como percepção, aprendizagem,
memória, atenção, vigilância, raciocínio e solução de problemas.
Além disso, o funcionamento psicomotor (tempo de reação,
tempo de movimento, velocidade de desempenho) tem sido freqüentemente
incluído neste conceito." (ibidem)
O que acontece com o sistema funcional, com o passar dos anos ?
"Embora essas funções cognitivas sejam afetadas negativamente pela idade, pois a partir da terceira década de vida ocorre perda de neurônios com concomitante declínio da performance cognitiva, os processos baseados em habilidades cristalizadas, como conhecimento verbal e compreensão continuam mantidos ou melhoram com o envelhecimento. Em contrapartida, processos baseados em habilidades fluidas, tais como tarefas aprendidas mas não executadas, sofrem declínio". (ibidem)
Dizem que a má notícia é que, com os anos, a velocidade cai; a boa é que, treinando, aumenta fonte : www.healthline.com |
Quais os fatores que levam a identificar um possível grupo de risco em relação a problemas desse tipo ?
"Foram identificados alguns fatores
de risco que podem aumentar a predisposição de um indivíduo ao
prejuízo cognitivo. Dentre esses fatores destacam-se idade, gênero,
histórico familiar, trauma craniano, nível educacional, tabagismo,
etilismo, estresse mental, aspectos nutricionais e socialização.
Mais recentemente fatores que podem ser revertidos ou
atenuado pelo exercício físico, tais como as doenças crônico degenerativas (diabete, câncer,problemas cardíacos, mal de Alzheimer, entre outras) hipercolesterolemia (colesterol alto) e aumento na concentração
plasmática de fibrinogênio (o que pode causar doença coronariana,entre outros problemas) e o sedentarismo, estão sendo associados
ao maior risco de declínio cognitivo." (ibidem)
O exercício físico faz com o cérebro, o mesmo que faz com o corpo: torna-o mais jovem e ágil fonte : mylifestylemiami.com |
Qual seria a relação entre atividade física e função cognitiva ?
"Dados epidemiológicos sugerem que pessoas moderadamente
ativas têm menor risco de ser acometidas por desordens mentais
do que as sedentárias, mostrando que a participação em programas
de exercícios físicos exerce benefícios na esfera física e
psicológica e que indivíduos fisicamente ativos provavelmente
possuem um processamento cognitivo mais rápido. Não
obstante isso, alguns cientistas, em pesquisas recentes, também
encontraram significativo aumento do desempenho físico e
cognitivo e alteração positiva no comportamento de pessoas idosas
com déficit cognitivo e demência. Confirmando que a prática
de exercício físico pode ser importante protetor contra o declínio
cognitivo e demência em indivíduos idosos." (ibidem)
O exercício físico confere idade biológica muito inferior à cronológica fonte : www.everydayhealth.com |
A ciência já pode afirmar que existe uma relação entre exercício e aumento da capacidade cognitiva ?
"Diversos trabalhos demonstram que a prática de exercício pode
levar à melhora de funções cognitivas como memória, atenção,
raciocínio e praxia (participação ativa em uma ação prática), existindo forte correlação entre o aumento na
capacidade aeróbia e a melhora destas funções." (ibidem)
Como seria o mecanismo dessa influência do exercício físico na função cognitiva ?
"A ação do exercício físico sobre a função cognitiva pode ser
direta ou indireta. Os mecanismos que agem diretamente aumentando
a velocidade do processamento cognitivo seriam uma melhora
na circulação cerebral e alteração na síntese e degradação
de neurotransmissores (substâncias químicas produzidas pelos neurônios que podem enviar informações no cérebro ou a outras células do corpo). Além dos mecanismos diretos, outros,
tais como diminuição da pressão arterial, decréscimo dos níveis
de LDL ( sigla que designa lipoproteína que transporta colesterol no sangue: HDL é o bom colesterol e LDL o mau colesterol) e triglicérides (tipo de gordura no sangue que, em excesso, aumenta o risco de doença cardíaca) no plasma sanguíneo e inibição da agregação
plaquetária parecem agir indiretamente melhorando essas
funções e também a capacidade funcional geral, refletindo-se desta
maneira no aumento da qualidade de vida.
Além disso, estudiosos têm sugerido alguns mecanismos que
seriam responsáveis por mediar os efeitos do exercício sobre as
funções cognitivas. Para a síntese, ação e metabolismo de neurotransmissores ,
é indispensável o aporte de quantidades adequadas
de substratos para essas reações. Dessa forma acredita-se
que o exercício físico poderia aumentar o fluxo sanguíneo cerebral
e, conseqüentemente, de oxigênio e outros substratos energéticos,
proporcionando assim a melhora da função cognitiva." (ibidem)
É sabido hoje que, alguns tipos de exercício, como a musculação, têm a capacidade de aumentar o número de vasos e artérias no sistema vascular. Seria possível saber se o mesmo poderia ocorrer no sistema neurovascular (conjunto de artérias e veias, que com os neurônios e outros elementos, compõem o sistema que está alojado no cérebro) ?
" É possível que a atividade física regular influencie
a plasticidade cerebral. Estudos como o do cientista Isaacs demonstraram
que o exercício físico aumenta a densidade vascular
no córtex cerebelar de roedores submetidos a exercício físico. Além
de manter a integridade cerebrovascular (evitando a diminuição
da circulação cerebral por efeitos adversos), aumenta a capilarização e o número de conexões dendríticas." (ibidem)
Com o exercício físico, poderia ocorrer uma espécie de melhora da saúde cerebral?
"Embora os mecanismos do exercício nas funções cognitivas não tenham sido claramente elucidados, não pode ser deixada de lado a hipótese de que esta melhora esteja envolvida com fatores de crescimento neural como o BDNF (a sigla está em inglês,em português é : fator neurotrófico derivado do cérebro) ou a outros estimuladores neurogênicos que atuariam na manutenção da função cerebral e na promoção da plasticidade neural. O BDNF é membro da família dos neurotróficos (proteínas que cuidam da saúde dos neurônios). Os mecanismos que induzem o BNDF, como o exercício físico, melhoram a aprendizagem, sendo que a manutenção do nível desse neurotrófico é importante para a efetiva função neural e longevidade." Por favor, não confunda BNDF com BNDES ( Banco nacional de desenvolvimento econômico e social), pois parece que este último sofreu um traumatismo com danos quase irreversíveis...
Aos 88 anos o canadense Earl Fee foi vencendor da categoria no All Masters indoor de 2018 fonte : ontariomasters.ca |
Com o exercício físico, poderia ocorrer uma espécie de melhora da saúde cerebral?
"Embora os mecanismos do exercício nas funções cognitivas não tenham sido claramente elucidados, não pode ser deixada de lado a hipótese de que esta melhora esteja envolvida com fatores de crescimento neural como o BDNF (a sigla está em inglês,em português é : fator neurotrófico derivado do cérebro) ou a outros estimuladores neurogênicos que atuariam na manutenção da função cerebral e na promoção da plasticidade neural. O BDNF é membro da família dos neurotróficos (proteínas que cuidam da saúde dos neurônios). Os mecanismos que induzem o BNDF, como o exercício físico, melhoram a aprendizagem, sendo que a manutenção do nível desse neurotrófico é importante para a efetiva função neural e longevidade." Por favor, não confunda BNDF com BNDES ( Banco nacional de desenvolvimento econômico e social), pois parece que este último sofreu um traumatismo com danos quase irreversíveis...
A ginástica alonga o corpo e estende a capacidade das funções cerebrais ao longo do tempo fonte : www.healthline.com |
Seria possível afirmar que as pessoas que praticam exercícios regularmente estariam mais protegidas das perdas cognitivas inerentes ao envelhecimento ?
"Apesar das controvérsias, estudos epidemiológicos confirmam
que pessoas moderadamente ativas têm menor risco de serem
acometidas por disfunções mentais do que pessoas sedentárias,
demonstrando que a participação em programas de exercício físico
exerce benefícios, também, para funções cognitivas.
Uma das explicações mais aceitas para a compreensão dos fatores
que estariam relacionados com as perdas cognitivas está relacionado
à redução da função cardiovascular decorrente do envelhecimento.
Esta redução levaria a um decréscimo progressivo
na oxigenação e uma hipóxia tecidual ao longo do tempo, por fim
implicando em declínio cognitivo. Inúmeros autores acreditam que
a prática regular do exercício físico poderia influenciar positivamente
nessa situação, diminuindo ou retardando o ritmo deste
processo involutivo." (ibidem)
Em termos de funcionamento cerebral, nunca é tarde para iniciar um programa de exercício fonte : blog.cheapism.com |
Poderia ser muito frustrante para o leitor, se ele imaginasse que veio a saber sobre a relação da atividade física e o desempenho da função cognitiva tarde demais... será que aqui também funciona o lema, antes tarde do que nunca ?
"Embora os benefícios cognitivos de um estilo de vida ativo pareçam
estar relacionados aos níveis de atividades físicas exercidos
durante toda a vida, sugerindo uma reserva cognitiva,
nunca é tarde para iniciar um programa de exercícios físicos. O
uso do exercício físico como alternativa para melhorar a função
cognitiva mostra-se relevante, especialmente por sua aplicabilidade,
pois se trata de um método relativamente barato, que pode
ser apresentado a grande parte da população. Todavia, deve-se
ponderar sobre o exercício não somente como uma alternativa
não medicamentosa, mas também como um coadjuvante.
A ponte entre exercício físico e funcionamento cognitivo poderia
ser um importante elo para processos de otimização da performance." (ibidem)
Creio que aquelas pessoas que, mesmo cientes dos benefícios do exercício físico em relação ao condicionamento cardiovascular, à força física e agilidade, são avessas ao termo atividade física ou prática esportiva, vão começar a refletir melhor sobre o assunto e, com um pouco de bom senso, deixar os preconceitos de lado. Uma pessoa pode ter uma tendência a ser mais intelectual, gostar mais de ler, de ficar quieta no seu canto, filosofando. Não há nada de errado em ser mais pensativo... mas é bom usar o cérebro para entender que mesmo aqueles que são mais dados a atividades intelectuais também necessitam mexer-se, ainda que seja para ativar melhor o cérebro, o ganha pão dos intelectuais.
Por falar em pão, que lembra alimentação, gostaria de dizer às leitoras que procurei na imprensa algum conselho que a atleta Morita Mitsu ( cuja foto está no início da postagem), de 96 anos, tenha dado a respeito de saúde. A única coisa que encontrei, é que ela diz que costuma comer um ovo crú de manhã cedo; pessoalmente, não recomendaria, creio que é meio perigoso por causa do risco de salmonela. Talvez a imprensa japonesa tenha alguma declaração, mas, mesmo praticando exercícios, minhas funções cognitivas não evoluíram a ponto de compreender japonês; tentei até utilizar o método de tentar entender o sentido geral do texto, mas não funcionou...bem, quando vemos essa idosa correndo adoidado, acho que não é preciso dizer muita coisa. Então, tive que ir em busca de outro atleta, da mesma idade, que pudesse transmitir algum conselho sobre atividade física.
Quando uma pessoa compreende que, muito além da aparência, a atividade física confere saúde integral, especialmente ao cérebro, vai querer fazer como Charles Eugster, fisiculturista e velocista que conquistou recordes para sua faixa etária em corridas de 60 a 400m. Ele começou a competir na juventude, enquanto fazia mestrado. Boa nutrição e exercícios estão entre as dicas que deu sobre viver com saúde durante o envelhecimento, mas há um fator que, segundo ele, vem antes de tudo : "aposentar-se é uma das piores coisas que você pode fazer para si mesmo", disse Eugster em sua casa em Zurich, Suíça,em Abril de 2016. O atleta faleceu em 2017, aos 98 anos.
Por falar em pão, que lembra alimentação, gostaria de dizer às leitoras que procurei na imprensa algum conselho que a atleta Morita Mitsu ( cuja foto está no início da postagem), de 96 anos, tenha dado a respeito de saúde. A única coisa que encontrei, é que ela diz que costuma comer um ovo crú de manhã cedo; pessoalmente, não recomendaria, creio que é meio perigoso por causa do risco de salmonela. Talvez a imprensa japonesa tenha alguma declaração, mas, mesmo praticando exercícios, minhas funções cognitivas não evoluíram a ponto de compreender japonês; tentei até utilizar o método de tentar entender o sentido geral do texto, mas não funcionou...bem, quando vemos essa idosa correndo adoidado, acho que não é preciso dizer muita coisa. Então, tive que ir em busca de outro atleta, da mesma idade, que pudesse transmitir algum conselho sobre atividade física.
Aos 87 anos, o inglês Charles Eugster começou a frequentar uma academia fonte : www.telegraph.co.uk |
Quando uma pessoa compreende que, muito além da aparência, a atividade física confere saúde integral, especialmente ao cérebro, vai querer fazer como Charles Eugster, fisiculturista e velocista que conquistou recordes para sua faixa etária em corridas de 60 a 400m. Ele começou a competir na juventude, enquanto fazia mestrado. Boa nutrição e exercícios estão entre as dicas que deu sobre viver com saúde durante o envelhecimento, mas há um fator que, segundo ele, vem antes de tudo : "aposentar-se é uma das piores coisas que você pode fazer para si mesmo", disse Eugster em sua casa em Zurich, Suíça,em Abril de 2016. O atleta faleceu em 2017, aos 98 anos.
Aos 96 anos,Charles Eugster continuava correndo, batendo recordes e fazendo exercícios na academia fonte : www.today.com |
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