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Sistema digestório protegido através do exercício

O exercício físico regular traz inúmeros benefícios ao trato gastrointestinal
fonte: aminoapps.com
 "Tradicionalmente, as pesquisas envolvendo a fisiologia do exercício se concentram nas respostas e adaptações dos sistemas respiratório, cardiovascular e muscular, já que muitos dos benefícios relacionados à saúde e qualidade de vida com a prática regular de exercício são decorrentes de respostas e adaptações nestes três sistemas orgânicos. Por outro lado, o exercício também exerce influência sobre outros sistemas que não estão diretamente relacionados com sua execução, tais como, o sistema imune e o trato gastrintestinal (TGI).
  Neste contexto, o impacto do exercício sobre o TGI, apesar de pouco explorado, é uma área de grande interesse. A partir do início da década de 1980, vários pesquisadores passaram a investigar os efeitos do exercício sobre o TGI por meio de estudos clínicos e epidemiológicos, principalmente com relação aos sintomas maléficos. Mais tarde, tal interesse foi focado sobre os potenciais benefícios do exercício sobre o TGI, tais como a diminuição da prevalência de câncer de cólon e da constipação (prisão de ventre). Outro aspecto interessante e, pouco explorado, é o efeito do exercício sobre a reatividade intestinal ( quer dizer que o exercício estimula reações no intestino). Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo revisar os principais efeitos maléficos e benéficos do exercício no TGI e seus potenciais impactos sobre a saúde." Esse é um trecho do artigo Efeitos do exercício físico sobre o trato gastrintestinal, cujos autores são Claudio Andre Barbosa de Lira,  graduado em Ciências Biológicas, especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São Paulo, mestre e doutor em Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Farmacologia da Universidade Federal de São Paulo, USP; Rodrigo Luiz Vancini, graduado em Educação Física, Especialista em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido na Saúde, na Doença e no Envelhecimento pela USP e em Bases Fisiológicas e Metodológicas do Treinamento Desportivo pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, Especialista em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP; mestre e doutor em Ciências pela UNIFESP; Antonio Carlos da Silva, graduado em Medicina, mestre em Ciências Biológicas (Biologia Molecular) e doutor em Ciências Biológicas (Biologia Molecular) pela UNIFESP, tendo obtido o título de especialista em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina; Viviane Louise Andree Nouailhetas, graduada em Ciências Biológicas e doutora em Ciências Biológicas (Biologia Molecular) pela Universidade Federal de São Paulo.
    Antes de comentar sobre os estudos abordados no artigo acima mencionado, vamos tentar lembrar como funciona a digestão no corpo humano, para podermos compreender melhor o que os pesquisadores concluíram.

Imagem do sistema digestório
fonte: aulas-de-anatomia.blogspot.com
  O tubo digestivo ou tubo gastrointestinal tem 10 a 12 m de comprimento médio no adulto e é dividido em trato gastrointestinal superior e trato gastrointestinal inferior. Cada parte tem as suas características próprias e executa funções peculiares, todas contribuindo para uma finalidade comum que é a digestão, isto é, tornar os alimentos aptos a serem aproveitados pelas células do organismo.
                                                Trato Gastrointestinal Superior
É composto pela boca, faringe, esôfago e estômago. Na boca, ocorre a mastigação iniciando-se assim o processo de digestão dos alimentos com a formação do bolo alimentar.A faringe auxilia na deglutição (ato de engolir). O esôfago é o canal de passagem para onde o bolo alimentar é empurrado por meio de contrações musculares (movimentos peristálticos) até o estômago. No estômago, inicia-se o processo de degradação dos alimentos. O bolo alimentar torna-se mais líquido e ácido passando a se chamar quimo e aos poucos, é conduzido para o duodeno.
                                                    Trato Gastro Intestinal Inferior
Na sequência, o alimento passa pelo intestino delgado, local onde ele será envolvido por sucos digestivos que são produzidos pelo fígado, pâncreas e pelas paredes intestinais.Ainda no intestino delgado, é feito um novo processo de “quebra” de proteínas. Nesse intestino (o delgado) ocorre a digestão das gorduras, sendo que a bile (produzida pelo fígado e armazenada na vesícula biliar) é eliminada sobre o bolo alimentar, agindo como emulsificadora da gordura. Pode-se dizer que a bile atua como uma espécie de “detergente”, fazendo com que as moléculas de gordura sejam quebradas. Os açúcares também são digeridos no interior do intestino delgado.
Na região final do intestino delgado, chamada íleo, acontece a absorção de todas as moléculas dos alimentos que já foram quimicamente transformadas por meio das enzimas atuantes na digestão e absorção de nutrientes e demais substâncias.Dessa maneira, tais moléculas conseguem passar pela parede intestinal e entram em contato com a corrente sanguínea. Por meio do sangue, ocorre a distribuição dessas moléculas para todas as células do organismo. No íleo, a maior parte da água presente no bolo alimentar também é absorvida. Os restos alimentares que não são digeridos no intestino delgado são encaminhados logo na sequência para o intestino grosso, também chamado cólon. Nesse intestino, continua o processo de absorção da água, sendo formadas as fezes. Depois do cólon, o “bolo fecal” segue para o reto, a última parte do intestino grosso, sendo que essa parte é finalizada com o ânus, local por onde as fezes são eliminadas.

   É desconhecido pelo público em geral, o fato de que o exercício físico pode ter um grande efeito protetor sobre o trato gastrointestinal. O artigo que abordaremos nessa postagem pode elucidar o assunto, que também traz dicas sobre como proteger-nos dos possíveis danos do exercício aeróbico em relação ao trato gastrointestinal, como a desidratação. O leitor poderá perceber que, para o atleta amador o exercício físico apresenta grandes benefícios e que os possíveis prejuízos podem ser evitados usando de prudência: evitar locais abafados e horários de pico do sol, se for o caso de correr ao ar livre; usar roupas leves e manter-se hidratado. Para os atletas que praticam treinos de alta performance, os cuidados têm que ser triplicados, pois a exigência é muito maior.

Os treinos e competições olímpicas podem provocar distúrbios gastrointestinais esporádicos ou crônicos
fonte: liveabout.com
Atletas profissionais e amadores que participam de treinos de alta intensidade e de competições frequentes, podem apresentar alterações no trato gastro intestinal. Quais são as causas ?
"O exercício aeróbio intenso e de longa duração pode provocar sintomas gastrintestinais. Estes podem ser divididos em sintomas superiores (vômitos, náuseas e pirose retroesternal - azia) e inferiores (diarreia, cólica abdominal, perda de apetite, sangramento). A etiologia  (causas) desses sintomas durante o exercício é multifatorial e inclui a redução do fluxo sanguíneo intestinal, a liberação de hormônios gastrintestinais, o estresse mecânico sobre o TGI, a desidratação, os fatores psicológicos ( a ansiedade por causa da competição), a idade, o sexo, a dieta e o nível de treinamento do indivíduo."

Esses atletas profissionais podem sofrer algum prejuízo na saúde por causa da exigência esportiva ?
"Atletas praticantes de atividades de longa duração, especialmente os ultramaratonistas, podem sofrer sangramento intestinal durante e após o exercício. Embora tal perda de sangue pelo TGI seja transitória, pode causar perda clinicamente importante de ferro e anemia."

Quais seriam as recomendações aos atletas profissionais e às pessoas que costumam praticar corrida? 
"Algumas medidas podem otimizar a digestão e a absorção dos alimentos durante o exercício e reduzir a ocorrência dos sintomas gastrintestinais : 
1. Aumentar apropriadamente o volume e a intensidade do treinamento; 
2. Planejar o regime de hidratação durante as sessões de treinamento e a competição; 
3. Evitar o consumo de soluções hipertônicas de carboidratos; 
4. Evitar o consumo de dieta rica em fibras antes da competição; 
5. Ingerir gorduras e proteínas com moderação antes da competição; 
6. Evitar altas doses de vitamina C e bicarbonato; 
7. Defecar e urinar antes do exercício; 
8. Evitar o uso de drogas que atuem sobre o sistema gastrintestinal, tais como os anti inflamatórios não esteroides, ou AINEs (Os efeitos colaterais mais importantes dos AINEs ocorrem no aparelho gastrointestinal. Aproximadamente 20% dos pacientes não toleram o tratamento com AINEs devido a tais efeitos, incluindo dor abdominal, azia e diarreia).; 
9. Realizar exame gastroenterológico, caso haja queixa frequente de sintomas gastrintestinais em repouso e durante o exercício."

Para quem é amador, os riscos são mínimos em relação aos grandes benefícios para o trato gastrointestinal
 fonte: parisinfo.com 

Quais seriam os benefícios do exercício físico sobre o trato gastrointestinal ?
"O exercício, principalmente o de baixa intensidade, tem efeito protetor sobre o TGI. Alguns estudos indicam uma relação inversa entre a atividade física e as doenças do TGI tais como, o câncer de cólon, a diverticulite, a colelitíase (cálculo na vesícula biliar) e a constipação."


Com relação ao câncer de cólon, qual seria, estatisticamente, a redução da possibilidade da doença através da adoção de um programa de exercícios físicos ?
"Em relação ao câncer de cólon, existem evidências consistentes de que homens e mulheres fisicamente ativos apresentam uma redução de cerca de 50% do risco de desenvolverem câncer de cólon. Esta redução acontece independente de outros fatores de risco, tais como a dieta e a composição corporal. A maioria dos autores sugere que existe uma relação dose-resposta já que foi demonstrado que o treinamento intenso confere maior proteção que o moderado."


Como se poderia explicar tamanha capacidade de proteção ao intestino gerada pelo exercício físico ? 
"Um dos mecanismos postulados para a queda da prevalência de câncer de cólon pela atividade física é a redução do tempo de trânsito intestinal o que diminuiria o tempo de contato entre a mucosa do cólon e os possíveis compostos carcinogênicos ( que favorecem o aparecimento de carcinomas ou tumores malignos) presentes no conteúdo intestinal. Além do mais, a atividade física modula positivamente alguns fatores relacionados com o desenvolvimento do câncer de cólon, tais como, a disfunção do sistema imune, a dieta, a obesidade, a ação da insulina, os níveis de prostaglandinas (as prostaglandinas consistem em um conjunto de substâncias lipídicas,ou gordurosas, que se assemelham aos hormônios) e os triglicérides, os estoques de ferro e os mecanismos de defesa antioxidante."

O exercício físico poderia prevenir o cálculo biliar (a popular pedra na vesícula) ?
"Assim como para o câncer de cólon, o exercício exerce um efeito protetor contra o desenvolvimento de colelitíase (cálculo biliar, que vulgarmente chamamos de pedra na vesícula), existindo uma clara relação dose-resposta entre atividade física e prevenção da colelitíase. Os mecanismos pelos quais o exercício pode modificar a patogênese da colelitíase são poucos conhecidos, porém a diminuição da secreção de colesterol biliar e o aumento da motilidade da vesícula biliar e do cólon são fatores postulados para a prevenção da colelitíase. Além disso, fatores como a tolerância à glicose, a concentração de insulina, os triglicérides e os hormônios reguladores da vesícula biliar, tais como a colecistocinina e os níveis baixos de lipoproteína de baixa densidade (LDL), são alterados pelo exercício e podem modificar favoravelmente a patogênese dessa doença."

Pedalar dá condicionamento cardiovascular e protege o trato gastrointestinal de doenças
fonte: gaadi.com
O exercício poderia prevenir a diverticulite, (inflamação ou infecção em uma ou mais das pequenas bolsas do trato digestivo) ?
"Algumas pesquisas comprovaram que a atividade física poderia reduzir o risco de diverticulite, por mostrarem que esta patologia é mais prevalente entre pessoas sedentárias do que em pessoas fisicamente ativas. O mecanismo postulado para a influência da atividade física na patogênese dessa doença é a diminuição do tempo de trânsito intestinal promovido pela atividade física."


O exercício físico poderia auxiliar no tratamento da constipação (prisão de ventre) ?
"Alguns estudos mostraram uma relação inversa entre constipação e atividade física. Os prováveis mecanismos para os benefícios do exercício sobre o TGI incluem a alteração da motilidade ( a capacidade de movimentar) do cólon, a diminuição do fluxo sanguíneo intestinal, o estresse mecânico produzido pela corrida sobre o intestino, a compressão do cólon pela musculatura abdominal e o aumento da ingestão de fibras como resultado do aumento do gasto energético. É importante ressaltar que grande parte dos fatores responsáveis pelos benefícios do exercício sobre o TGI são também os responsáveis pelos malefícios, portanto, existe uma relação dose-resposta e um limiar de intensidade que separa os dois efeitos sobre o TGI." Assim como a corrida pode evitar a constipação, se o treino for muito extenuante, poderia provocar diarreia; caberia a cada um avaliar as condições de temperatura, ventilação e horário em que se vai praticar a corrida. Roupas mais leves e boa hidratação também são importantes para evitar desidratação e diarreia.


     São relevantes os dados sobre a prevenção de doenças sobre o TGI que as pesquisas têm apontado. Caberia apenas salientar que muitas pessoas que já aderiram a um programa regular de exercícios, evitam o exercício aeróbico. É uma pena, pois, além de proteger-nos de problemas cardiovasculares, o exercício aeróbico também é muito eficaz no combate às doenças ligadas ao TGI. É importante vencer mais essa etapa, a de fazer exercício aeróbico, ao menos algum tempo de caminhada acelerada, corrida ou bicicleta (se você pratica tênis ou outro esporte que dá condicionamento cardiovascular já é suficiente).  Outro fator  que não foi mencionado no artigo é a alimentação saudável: é claro que é importante, já que se trata do sistema digestivo. Nós já sabemos que a alimentação balanceada é protetora. Sem grandes sacrifícios, é fácil evitar exagerar nas frituras e doces e aprender a apreciar legumes e verduras; isso já poderia ser um grande passo para a prevenção das doenças ligadas ao sistema digestório. Essas medidas também ajudam a combater a obesidade que é um fator de risco. E, assim, sem grandes despesas, podemos eliminar muitos futuros problemas de saúde que nos obrigariam a adotar dietas muito mais rigorosas e passar por muito mais desconforto do que calçar o tênis e praticar exercícios aeróbicos. É, mais uma, vez o ditado: é melhor prevenir do que remediar...









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