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O exercício físico melhora a capacidade cerebral ?

O exercício físico melhora o desempenho cerebral, previne transtornos de humor e doenças cognitivas
fonte: selfgrowthhacker.com

"Há décadas, tem sido demonstrada uma relação benéfica entre a prática de exercícios físicos e o metabolismo do sistema nervoso central. Interessantemente, logo após uma única sessão de exercício físico aeróbio realizado em intensidade moderada, são observadas melhoras no desempenho de diferentes tarefas cognitivas, tais como velocidade de processamento, atenção seletiva e memória de curto prazo. Similarmente, recentes achados  indicam que os exercícios de força e intermitentes (que combinam esforços de alta intensidade a períodos de repouso) também exercem uma influência positiva sobre a cognição. Sabidamente, indivíduos que praticam regularmente exercícios físicos apresentam melhor desempenho cognitivo quando comparados a seus pares sedentários. Diante disso, cresce o interesse clínico e científico na aplicação do treinamento físico em diversas populações. Por exemplo, tem-se demonstrado que escolares fisicamente ativos apresentam uma maior facilidade no processo de aprendizagem, razão pela qual se sugere que o treinamento físico possa ser de suma relevância não apenas para o crescimento e desenvolvimento físico, mas também intelectual. Sabe-se, ainda, que o treinamento físico pode abrandar a perda cognitiva na população idosa que, geralmente, apresenta piora nas capacidades desde processamento e manipulação de novas informações, baixo desempenho na realização de múltiplas tarefas simultaneamente, déficits de atenção e perda de memória de curta e longa duração. Por fim, há evidências de que o treinamento físico possa atenuar os déficits cognitivos em pacientes acometidos por doenças neurodegenerativas. A despeito do crescente número de estudos demonstrando o papel do exercício físico – aguda ou cronicamente – sobre o desempenho cognitivo, os mecanismos que norteiam tais adaptações permanecem controversos e pouco explorados. Portanto, esta breve revisão narrativa tem como objetivo compilar e discutir as principais hipóteses fisiológicas que, potencialmente, explicariam os efeitos agudos e crônicos do exercício sobre a cognição." Esse é um trecho do artigo Influência do exercício físico na cognição: uma atualização sobre mecanismos fisiológicos, cujos autores são : Carlos Alberto Abujabra Merege Filho, graduado em Educação Física e mestre em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo, USP; Christiano Robles Rodrigues Alves, graduado e doutorado pela Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da Universidade de São Paulo (USP), doutor  pela Norwegian University of Science and Technology (NTNU), Trondheim, Noruega e pelo Joslin Diabetes Center, Harvard Medical School, Boston, MA, tem pós-doutorado pela Harvard Medical School, Boston, MA ; Carlos Andrés Sepúlveda graduado em Educação Física, mestre em Educación Física pela Universidad de Playa Ancha e em Nutrição pela Universidad de ChileAndré dos Santos Costa, graduado em Ciências Biológicas, mestre em Ciências, pelo programa de pós-graduação em Ciências - Toxinologia, no Instituto Butantan, São Paulo, SP; Antônio Herbert Lancha Junior,graduado em Educação Física pela Universidade de São Paulo, mestre em Nutrição Experimental pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo e doutor em Nutrição Experimental pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, tem pós-doutorado pela Washington University School of Medicine em Medicina Interna; e Bruno Gualano, graduado e doutorado pela Escola de Educação Física e Esporte da USP, tem pós-doutorado em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP.
O exercício aeróbico melhora a oxigenação cerebral e, consequentemente o fluxo de sangue no cérebro
fonte: emeraldwellness.ca

   Que o exercício físico realizado regularmente deixa as pessoas bem condicionadas e mais resistentes, isso talvez seja fácil de compreender. Que o corpo fica mais em forma, também não é difícil de deduzir. Agora, que o cérebro fica mais ativo e defendido contra as doenças que podem danificá-lo como resultado da adesão a um programa regular de atividade física não é tão simples de concluir. Geralmente, nós costumamos associar exercício físico com a saúde do corpo e os exercícios em que só usamos a  cabeça, como estudar, calcular, criar, imaginar e aprender, com a saúde do cérebro. E às vezes temos até preconceito a esse respeito: se uma pessoa tem uma tendência a estudar muito, julgamos e concluímos que é do tipo parado, que não faz exercício físico. Se faz muita academia, a associamos com uma pessoa que não cultiva o gosto pela literatura e que não aprimora o conhecimento, como se não tivesse massa cerebral. E, com esses preconceitos, deixamos de avaliar que a verdadeira sabedoria está no equilíbrio: é importante para todas as pessoas empenhar-se para tentar melhorar a capacidade intelectual e aprimorar a cultura geral; assim como é necessário para todos praticar exercícios físicos, tenham mais ou menos gosto pela atividade física. E podemos ir mais longe: o exercício físico é tão importante para a saúde do corpo como para a saúde cerebral. Vamos tentar compreender, através do artigo mencionado, quais são os mecanismos que tornam real a afirmação de que o exercício físico melhora a saúde cerebral.

Qual seria a primeira hipótese para explicar os benefícios do exercício físico para melhorar a saúde cerebral ?
"O cérebro, embora constitua apenas 2% da massa corporal, pode ser responsável por até 20% do consumo energético total. Nesse contexto, o fornecimento de oxigênio e nutrientes através do fluxo sanguíneo cerebral é determinante para suprir tamanha demanda energética. Corroborando tal hipótese, após uma sessão aguda de exercício físico, parece ocorrer um aumento significativo no fluxo sanguíneo cerebral. Alguns cientistas avaliaram o fluxo sanguíneo cerebral por meio de uma técnica de ressonância magnética, antes e imediatamente após uma sessão de exercício físico em intensidade moderada. Os achados indicaram um aumento significativo no fluxo sanguíneo cerebral logo após a sessão aguda de exercício físico (+20%). Tendo em vista que maior fluxo de sangue no cérebro (ou em suas diferentes regiões) representaria maior oferta de oxigênio e nutrientes e, por conseguinte, maior aporte energético pode- se assumir que esse seja um provável mecanismo através do qual o exercício agudo favorece o desempenho cognitivo." 

Com relação aos transtornos de humor como a ansiedade, o estresse e a depressão, qual seria a explicação sobre os benefícios do exercício físico na prevenção e no tratamento desses problemas ?
"Há estudos que indicam que o exercício físico agudo é capaz de elevar a síntese de neurotransmissores sinápticos. Alguns cientistas demonstraram que o exercício físico prolongado de intensidade moderada atua na ativação das catecolaminas cerebrais, facilitando sua entrada. De fato, sabe-se que a sensação de bem-estar experimentada após uma sessão de exercício físico realizado em intensidade moderada parece estar diretamente associada a maior ação de neurotransmissores, tais como: noradrenalina, β-endorfina e a própria dopamina." Essas substâncias costumam fazer parte das fórmulas das medicações prescritas aos pacientes acometidos por esses transtornos. Com o exercício físico, há um incremento na produção dessas substâncias; por isso é que o exercício físico pode prevenir essas doenças e auxiliar no tratamento, como apoio à medicação.

Se você acha que está perdendo tempo de estudo ao praticar exercícios, enganou-se. Está aprimorando a capacidade de memorização
fonte: chatelaine.com
Qual a relação entre exercício físico e melhora da capacidade cognitiva ?
"A ciência já concluiu que uma sessão de exercício físico aeróbio realizado de forma contínua em intensidade moderada poderia promover um efeito benéfico em importantes funções cognitivas, tais como velocidade de processamento, atenção seletiva e controle inibitório."


Seria danoso para as funções cerebrais a realização de exercícios físicos muito intensos ?
" A ciência avaliou que uma sessão aguda de exercício físico contínuo realizado em alta intensidade exerceria efeitos prejudiciais sobre a cognição. Na tentativa de explicar tal relação entre intensidade de exercício e resposta cognitiva, um estudioso sugere que o exercício físico em alta intensidade poderia provocar um quadro de fadiga sistêmica, resultando tanto na queda do desempenho físico quanto cognitivo.Especula-se que a redução de desempenho cognitivo acarretada pela fadiga possa estar associada à redução do aporte sanguíneo e energético cerebral bem como à supressão da síntese de neurotransmissores."



Seria possível a um atleta realizar treinos muito intensos sem que ocorra a fadiga em relação ao cérebro ?
"Interessantemente, recentes achados do nosso grupo de pesquisadores, demonstram que uma única sessão de exercício físico em alta intensidade realizada de maneira intervalada, não prejudicou a memória de curto prazo e até mesmo melhorou a velocidade de processamento. Esses dados sugerem que as pausas ativas realizadas entre os esforços possam ter minimizado o quadro de fadiga, evitando assim os prejuízos na cognição."

Através de um programa regular de atividade física é possível prevenir o mal de Alzheimer
fonte:marthastewartweddinngs.com

É possível afirmar que a estrutura cerebral apresenta melhora em decorrência do exercício físico regular ?
"Os avanços das técnicas não invasivas de neuroimagem, como a espectroscopia por ressonância magnética e o eletroencefalograma, vêm colaborando substancialmente para o entendimento dos mecanismos envolvidos na positiva relação entre a prática de exercícios físicos e o desempenho em tarefas cognitivas. De fato, diversos estudos têm revelado que indivíduos fisicamente ativos apresentam maiores ativações no espectro de bandas específicas no exame de eletroencefalograma quando comparados a seus pares sedentários, o que sugere padrão de ativação cerebral diferenciado em função do nível individual de atividade física ou capacidade física."

Até para as pessoas mais jovens, há incremento na atividade cerebral por causa do exercício físico ?
"Os jovens fisicamente ativos parecem apresentar maior ativação em áreas cerebrais específicas, sugerindo a existência de uma maior rede de estruturas neurais em diversas regiões cerebrais, tais como lóbulo frontal, córtex cingulado anterior, lóbulo infra-temporal e córtex parietal, em decorrência da atividade física regular. Curiosamente, cada uma dessas regiões está envolvida na realização de tarefas cognitivas específicas."



Há pesquisas que especulam sobre o fato de existir um aumento nas redes neurais através do exercício? Há alguma explicação para isso ?

"A fim de investigar mecanismos biomoleculares envolvidos no remodelamento das estruturas cerebrais e na maior plasticidade sináptica, diversas pesquisas utilizaram de métodos invasivos em modelos animais. Destacam-se os estudos que demonstraram novos capilares cerebrais, neurogênese e surgimento de novas conexões sinápticas após a realização de treinamento aeróbio regular.  Estas alterações parecem ocorrer principalmente por conta de importantes ações hormonais."

Como ocorreria a relação entre hormônios e funcionamento do cérebro ?
"Enquanto alguns hormônios exercem funções de estímulo e crescimento neuronal, tais como Insuline Growth Factor I (IGF-I) e Vascular Endothelial Growth Factor (VEGF), outros podem desempenhar um papel deletério no sistema nervoso central, tal como o cortisol."

Qual seria a função do IGF-I ?
"O IGF-1 é um dos principais candidatos a explicar os benefícios do exercício crônico sobre o desempenho cognitivo. Trata-se de um hormônio que induz neurogênese, cujas concentrações séricas guardam relação direta com os resultados em testes de aprendizagem espacial em ratos."

E o que poderíamos dizer sobre o VEGF ?
"Outro hormônio que vem sendo estudado devido a seu papel ímpar na angiogênese cerebral é o VEGF. Um elegante estudo de bloqueio farmacológico revelou que a angiogênese é um dos principais fatores responsáveis pela aquisição de memória e aprendizagem em ratos. Supostamente, tal achado se explica em razão da iminente necessidade de novos vasos sanguíneos, responsáveis por manterem a demanda energética nos processos de diferenciação, migração e posterior maturação neural. É imperativo destacar que o treinamento físico é considerado um importante estimulador do VEGF. Os efeitos positivos da atividade física na plasticidade cerebral e na função cognitiva podem, em parte, ser mediados por um estímulo salientado sobre a vascularização cerebral e o fluxo sanguíneo local."

Se o cortisol pode prejudicar a atividade cerebral, qual seria o papel do exercício físico para inibir a produção desse hormônio ? 
 "Há boas evidências de que o excesso de corticosterona produz um comprometimento da função hipocampal, tal como a memória de trabalho e a espacial. Evidentemente, estratégias que visem a redução de cortisol e corticosterona são de potencial valia nas adaptações cognitivas, de modo que o efeito supressor do exercício sobre tais hormônios merece destaque. Estudos tanto em modelos animais quanto em humanos demonstram que o treinamento físico pode gerar adaptações nas glândulas adrenais, reduzindo a liberação de cortisol e corticosterona."

Sabemos que o exercício físico exerce ação antioxidante no corpo humano. Poderíamos dizer que o exercício físico pode propiciar esse mesmo benefício ao cérebro ?
"É fato que o treinamento físico regular de intensidade moderada exerce ação antioxidante.  Considerando que o estresse oxidativo exacerbado é um dos candidatos responsáveis pelo envelhecimento e, consequentemente, pelo declínio de diversas funções executivas, possivelmente a ação antioxidante do treinamento físico possa se constituir como um adicional mecanismo pelo qual o exercício melhora a cognição. De fato, mais estudos randomizados com humanos devem ser conduzidos para comprovar ou não essa premissa."

 Wendy Suzuki, professora da Universidade de Nova York pesquisa sobre os benefícios do exercício físico para o cérebro
fonte: ted.com

     Talvez você tenha conseguido avaliar como é importante o exercício físico para a saúde cerebral. A neurocientista, Dra. Wendy Suzuki, tem um ótimo vídeo sobre o assunto, é uma verdadeira entusiasta do exercício físico e tem a autoridade da ciência para falar com fundamento:     https://www.ted.com/talks/wendy_suzuki_the_brain_changing_benefits_of_exercise?nolanguage=pt   

  O autores que escreveram o artigo que abordamos nessa postagem também têm a autoridade de estudiosos dedicados e de pesquisadores que conseguiram perceber que o fato de intervalar o exercício muito intenso é o suficiente para evitar riscos para os atletas que fazem treinos muito intensos. Essas pesquisas podem ser um grande apoio para a prevenção de doenças como o mal de Alzheimer. No próximo dia 21 de Setembro, será celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença de Alzheimer. As causas da doença não estão totalmente esclarecidas, mas, a adoção de hábitos saudáveis pode impedir que ela apareça, como explica o geriatra Renato Bandeira de Mello: "— A prevenção passa pela adoção de hábitos saudáveis ao longo da vida, mas nunca é tarde para começar. Nunca é tarde para começar a fazer uma atividade física e mudar hábitos alimentares que ajudem a diminuir a obesidade."(fonte: pioneiro.clicrbs.com.br)
















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