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A pedagogia do esporte de aventura

Esporte de aventura e educação formam a parceria ideal para aprender sobre aspectos de segurança  bem como sobre preservação do meio ambiente
fonte: southwestraftandjeep.com
 

 "A prática de esporte de aventura é um fenômeno crescente no Brasil nas últimas décadas. Trata-se de práticas corporais, manifestadas no âmbito do lazer e da competição e que, por sua vez, tem como eixos norteadores a aventura, o risco e as fortes emoções em sua máxima intensidade e profusão experienciadas no meio natural. Trata-se de práticas físicas inovadoras e diferenciadas, que, ao contrário das modalidades de esportes clássicos, como o vôlei, o basquetebol e o futsal, impõem o esforço gerador da atividade ao atleta. O esporte de aventura se vale das energias provenientes dos elementos da natureza, como vento, ondas térmicas, correntezas, declives de montanha (surf, rafting, canoagem, asa delta, ski, entre outras), ou, ainda, de uma força energética exterior, proveniente de uma máquina motorizada (motociclismo, automobilismo, ultraleve, ski náutico). O quadro até aqui apresentado circunscreve o esporte de aventura como um campo de intervenção profissional docente inovador, instigante e repleto de possibilidades para diferentes âmbitos de ensino e aprendizagem, inclusive o escolar." Esse é um trecho do artigo Esporte de Aventura como Conteúdo Possível nas aulas de Educação Física Escolar, cujo autor é  Jairo Antônio da Paixão, graduado em Educação Física e em Pedagogia, mestre em Educação, doutor em Educação pela Ibero American University e em Ciência do Desporto pela Universidade de Trás-dos-Montes e pós-doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Viçosa, MG (UFV).

  Em postagem anterior, "Esporte que respeita a natureza", observamos que a sociedade vem procurando essas atividades esportivas de aventura em busca de qualidade de vida mas que, infelizmente, detecta-se a falta conscientização em relação à questão da preservação do meio ambiente bem como da segurança relativa às questões técnicas que envolvem essas modalidades. Essas duas falhas podem trazer grandes perigos, o primeiro quanto à questão ambiental, o segundo em relação à vida e integridade física dos praticantes. Para sanear esses dois problemas, a única solução é a educação. O artigo aqui apresentado aponta como a Educação Física, como matéria da grade escolar, pode contribuir para a conscientização dos usuários dessas modalidades nesses dois aspectos e, paralelamente, como a própria grade curricular pode se tornar inovadora se incorporar as atividades físicas e esportivas de aventura na natureza ao seu conteúdo formal. 

Incorporar o tema das atividades físicas e esportivas de aventura na natureza pode trazer um novo interesse pelas aulas tradicionais de Educação Física ?
"O esporte de aventura como conteúdo das aulas de Educação Física escolar surge como possibilidade de novas vivências. Assim, as modalidades marcadas pela tradição da perspectiva tradicional baseada no ensino aprendizagem de técnica e regras de modalidades esportivas, consideradas clássicas na escola, como o futsal, vôlei, basquete e handebol, cedem espaço para uma educação em que sejam privilegiados temas diversificados e que, por sua vez, possam subsidiar os alunos de vivências motoras diversificadas ao longo da educação básica."


Ao aprender as técnicas de segurança para escalar, a criança aprende a não desafiar a natureza
fonte: campingduport.com

Em contrapartida, poderíamos dizer que os esportes de aventura têm um valor educativo?
"Sobre o valor educativo do esporte de aventura como conteúdo das aulas de Educação Física escolar têm-se aspectos motivacionais como o ambiente diversificado de práticas, tendo como eixo norteador o risco e fortes sensações. Esses elementos, comuns ao esporte de aventura, podem configurar-se como estímulo às sensibilidades corporais dos alunos possibilitando-os a partir do (re) encontro com as sensações corporais, experimentando e sentindo o próprio corpo em meio às fortes emoções e o risco em um mundo que, a cada vez mais, se centra na estimulação áudio visual."

Fazer constar o esporte de aventura da grade escolar pode contribuir para a educação ambiental ?
"Dado ao fato de essas práticas corporais ocorrerem em diferentes ambientes naturais e pela crescente demanda que se impõe no contexto atual sobre o repensar nas ações ligadas às questões preservacionais do meio ambiente, elas podem propiciar elementos para se refletir e considerar uma abordagem da educação ambiental no âmbito da Educação Física escolar. A reflexão sobre as necessidades humanas e seus valores socialmente construídos pode ser o caminho para a formação de uma consciência ecológica e, consequentemente, a compreensão dos diferentes significados e implicações resultantes da interação dos seres humanos com o meio natural na contemporaneidade."
Ela conhece o equipamento, as normas de segurança e os procedimentos
fonte: bethesdamagazine.com
Sabemos que existe um processo para incluir uma renovação da grade escolar. Como daria isso no caso dos esportes de aventura? 
"Toda e qualquer proposta que envolva a inserção de novas temáticas no âmbito da escola, como é o caso dos esportes de aventura, passa pela necessidade de serem precedidas de reflexões a partir do conceito de conteúdo. Nessa perspectiva, o entendimento de conteúdo leva à consideração das dimensões que permeiam o processo ensino aprendizagem de um dado conteúdo como a dimensão conceitual (é a forma do professor promover ao aluno o conhecimento de si mesmo, suas possibilidades de movimento e limitações), atitudinal (está presente no cotidiano escolar, envolvendo valores, atitudes, normas, posturas que influem nas relações e interações da comunidade escolar numa perspectiva educacional responsável, valorativa) e procedimental (é composto pelo conjunto de técnicas, habilidades ou procedimentos que devemos saber executar, ou seja, é um saber fazer)."

Avaliando dessa forma, o que se pode afirmar sobre o esporte de aventura?

"Na dimensão conceitual podem ser desenvolvidos os aspectos históricos das modalidades, os locais de prática, os equipamentos, os objetivos e motivos de se praticar, bem como o entendimento do fator risco presente nas diferentes modalidades. No que se refere à dimensão procedimental, que trata do ‘como fazer’, podem ser desenvolvidas as técnicas de movimentos, as técnicas e princípios relacionados à segurança e bem estar do praticante, os processos pedagógicos e as adaptações necessárias do esporte para cada faixa etária e condições da escola. Finalmente, a partir da dimensão atitudinal, podem ser desenvolvidas a noção de regras, a ética dos esportes, o respeito às normas de segurança, a relação com situações de risco, a importância da cooperação entre praticantes no decorrer da prática de uma dada modalidade."
Como não contemplar a natureza?
fonte: northstarcalifornia.com

Em termos mais práticos como isso se explicaria?

"Em se tratando de um conteúdo de pouca divulgação no Brasil, quando comparado aos esportes tradicionais trabalhados na escola, como futsal, handebol, basquete e vôlei, tem-se presente uma boa oportunidade para se retomarem discussões relevantes como: cooperação, cuidados com o próprio corpo e com o do colega, superação de limites pessoais, medo, confiança e autoconfiança, entre outros. Como envolve uma série de conceitos e procedimentos, os alunos devem mostrar empenho, organização, cuidado com os materiais e cooperação na realização das tarefas. As superações de limites pessoais aparecem com nitidez nessa atividade. O medo de altura, liderança, autoconfiança, timidez, vergonha, entre outros, são escancarados pelos alunos e deverão ser trabalhados pelo professor."

Quais seriam as conclusões sobre a relação educação e esportes de aventura?
"A busca por elementos com potencial para um currículo escolar alternativo para Educação Física é, acima de tudo, uma atitude de não conformismo, por parte dos atores envolvidos na ação educativa. A própria realidade nas escolas evidencia a necessidade de propostas e movimentos para implementar o processo educacional nos diferentes segmentos que compõem a educação básica e que, por sua vez, possam atender às necessidades de um modelo de formação para a sociedade atual."
Para andar na trilha sem se perder é preciso aprender a utilizar o mapa
fonte: gites-chambreshotes.com

 A escola pode ganhar agregando aventura e a aventura torna-se mais segura e responsável através da interferência da escola. É uma noção arrojada que permite um grande ganho pelos dois lados. Os aspectos de segurança e preservação ambiental são trabalhados na teoria e vivenciados na prática, e, é isso que garante a eficácia pedagógica. E, para além do âmbito escolar, é possível que a família possibilite esse tipo de aprendizado às crianças e adolescentes, procurando um local apropriado para passar as férias, fazer passeios, onde seja seguro praticar algumas dessas modalidades. Junto com o lazer, existe a convivência e uma série de coisas que se aprendem, como responsabilidade, companheirismo, cuidado com os materiais, reconhecimento dos morros, trilhas e acessos locais, assimilação das passagens, cuidados com o meio natural e com a segurança individual, divisão de tarefas, leituras de mapas, caminhar em trilha aberta e lisa, caminhar em trilha fechada (em meio à vegetação) caminhada em costeira (rochas à beira mar), caminhada em rios...quer mais?


   










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