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Exercício sem ansiedade ou depressão

O exercício físico aumenta a produção do BNDF, o fator neurotrófico derivado do cérebro, que está relacionado à melhora da saúde cerebral
fonte: 3dprintingmedia.network

 "O ser humano está sujeito, desde sua concepção, a diversas e complicadas transformações, amplamente relacionadas aos aspectos físicos, ambientais, sociais, psicológicos e aos hábitos de atividades do dia a dia. Tais transformações podem levar a várias doenças, dentre elas, atualmente destacam-se os transtornos de ansiedade e depressão. A prática da atividade física sistemática vem sendo tema de vários trabalhos tendo como foco a possível eficácia na melhoria de seus sintomas e causas. Desta forma, o objetivo deste artigo foi revisar estudos sobre o efeito do exercício físico no comportamento de pessoas com os transtornos de ansiedade e depressão, bem como, entender os mecanismos neurofisiológicos causadores de tais doenças, seus fatores psicofisiológicos e psicossociais." Esse é um trecho do artigo Efeitos Psicofisiológicos do Exercício Físico em  Pacientes com Transtornos de Ansiedade e Depressão, cujos autores são Jefferson Isaac Batista, graduado e mestrando em Educação Física e Alessandro de Oliveira, graduado em Educação Física, mestre em Ciências do Esporte e doutor em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa, atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de São João Del- Rei, MG.

    Ansiedade e depressão são termos que, infelizmente, acabaram por ser incorporados ao nosso quotidiano. As pressões da rotina de trabalho e a urgência espremem-nos de um lado e o sedentarismo  nos convida a despressurizar as tensões num sofá, beliscando uma guloseima e assistindo a um seriado, quando o mais recomendável para a saúde seria (parece paradoxo!) calçar o tênis e  correr ou fazer alguma outra atividade física.  Se escolhemos o menos aprazível, que é calçar o tênis e enfrentar a preguiça, espera-nos a saúde; no extremo oposto, quando o sofá consegue derrotar-nos, encontraremos a comodidade, o conforto e, junto a eles, a falta de saúde física e mental. É inevitável: quem quer ter boa saúde deve esforçar-se por vencer o comodismo e praticar exercício físico. Vamos tentar compreender essa realidade através do que nos apresentam esses pesquisadores.

Qual seria o conceito de transtorno mental?
"De acordo com a American Psiquiatric Association (APA) (2014), um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por uma perturbação clínica significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo." 

Quais seriam os sintomas do transtorno mental? 
"As relações entre pessoas com estes transtornos se tornam conturbadas, refletindo em isolamento social, insegurança, e vários comportamentos que afetam sua qualidade de vida e saúde mental."
Além da ansiedade e depressão, o exercício, como a dança, ajuda no tratamento do mal de Parkinson
fonte: danceireland.ie

É grande o número de portadores de transtorno mental? Quais seriam os transtornos mais frequentes e suas causas?
"Devido ao estilo de vida adotado pela sociedade nos dias atuais, a ansiedade, o estresse e a depressão, tornaram-se doenças diagnosticadas com elevada frequência. Dentre os fatores causadores desses distúrbio, destacam-se a predisposição genética, abuso emocional, alterações fisiológicas durante a adolescência, puerpério, menopausa ou o envelhecimento." 

Todos nós temos ansiedade; quando ela passa a ser considerada um transtorno?
"A ansiedade está presente na vida de uma pessoa ao longo de toda sua existência, e pode ser entendida como um acompanhamento normal das diversas mudanças, sendo o caráter patológico verificado quando esta se apresenta em uma intensidade ou duração elevada."

Como é caracterizada a depressão?
"A respeito da depressão, o termo é cunhado há mais de 25 séculos, sendo também relacionado como um tipo de temperamento, estado emocional infeliz e tristeza.Os sintomas depressivos podem aparecer em decorrência de diversas patologias, em vigência do uso de vários medicamentos ou após o início de outras doenças psiquiátricas, tais como, transtorno obsessivo-compulsivo e síndrome do pânico."
Começar a correr é um desafio que pode garantir melhora da saúde mental
fonte: verywellfit.com

Quais os sintomas desse transtorno?
"Do ponto de vista psicológico, ela se associa às características singulares da personalidade, tais como: ausência de autoconfiança, baixa autoestima, sensação de vazio interior."

Sabemos que, tanto a ansiedade como a depressão são tratadas com medicamento e psicoterapia. Existe outra ferramenta para ajudar a combatê-las?
"Paralelamente às terapias medicamentosas, têm sido sugeridas outras formas de tratamento, dentre elas, a prática de exercício físico que, em vários casos, tem efeitos similares ao uso de remédios e terapias."

Quais seriam os possíveis benefícios do exercício como aliado no tratamento desses transtornos?
"Algumas hipóteses tentam justificar a melhoria da função cognitiva em resposta ao exercício físico. No que concerne aos aspectos fisiológicos temos: o aumento no transporte de oxigênio para o cérebro, a síntese e a degradação de neurotransmissores, liberação de serotonina e diminuição da viscosidade sanguínea."

Quais seriam os benefícios a nível psicológico?
"No nível psicológico, ocorre a diminuição da ansiedade, melhora na autoestima e cognição, além de reduzir o stress, sendo o exercício moderado e vigoroso fator preponderante à diminuição da tensão. Além disso, a prática de exercícios físicos traz importantes benefícios também em relação aos distúrbios do sono, transtornos de humor, e aspectos cognitivos como memória e aprendizagem."

O  que poderia explicar a importância do exercício nesses casos?
"A realização de exercícios físicos pode estar ligada a melhoria de diversos fatores de crescimento, como o fator neurotrófico cerebral (BDNF), que medeia efeitos protetores e terapêuticos do exercício na depressão, estabelecendo uma ótima forma de prevenção e combate da doença, desde que seja de forma constante e moderada."

Molécula da proteína de BNDF,  fator neurotrófico derivado do cérebro

Fatores de crescimento, como as “neurotrofinas”, são moduladores da plasticidade do sistema nervoso e, sendo uma dessas neurotrofinas, o BDNF, sigla para Brain Derived Neurotrophic Factor, exerce vários efeitos no sistema nervoso central, como crescimento, diferenciação e reparo dos neurônios. O BDNF é produzido durante toda a vida com o intuito de preservação de funções essenciais como o aprendizado e memória, só para citar alguns. Acredita-se que um nível elevado de BDNF poderia estar relacionado com uma melhor saúde cerebral. Por outro lado, uma diminuição do BDNF pode estar relacionada com diferentes alterações do sistema nervoso como a depressão, esquizofrenia, doença de Parkinson, etc.
Pesquisas indicam que a prática regular de atividade física faz com que a produção do BDNF seja aumentada, com isso pode-se obter uma melhoria na memória, nas funções executivas e na saúde em geral.  (fonte:neuroglia.com.br)


A nível da saúde em geral existem benefícios do exercício que poderiam contribuir para a saúde mental e evitar esses transtornos?
"Características positivas, são observadas nas esferas fisiológicas (aumento da oxigenação cerebral), bioquímicas (aumento na concentração das monoaminas) psicológicas (distração, aumento da autoeficácia) e endócrinas (aumento nos níveis plasmáticos de endorfina). Além disso, a importância de se manter ativo fisicamente tem sua dimensão aumentada, quando se pensa que, além de uma independência funcional e aumento da expectativa de vida, tal prática guarda relações relevantes com a prevenção e controle de muitas doenças crônico degenerativas, dentre elas diabetes tipo II, câncer e osteoporose."
A yoga é um exercício muito eficaz para combater a ansiedade
fonte: yogaclub.com

De forma geral, como o exercício físico é benéfico em relação à saúde mental?
"Os benefícios no desempenho cognitivo e na diminuição dos sintomas depressivos podem ser desenvolvidos nos três níveis de intervenção sendo: (a) proteger a saúde e evitar o aparecimento de doenças; (b) identificar precocemente a patologia quando ainda é assintomática e tratá-la e; (c) evitar a progressão da doença já instalada."

Quais seriam as considerações finais desse estudo?
"Após dissertar os estudos encontrados pode-se sugerir que a inclusão do exercício físico no cronograma terapêutico do depressivo ou ansioso, apresentou melhoras significativas e, sua interrupção, provocou retrocesso no processo de reabilitação. Além disso, os estudos envolvidos mostraram melhoras a partir de poucas semanas de atividade, diminuindo sintomas e promovendo alívio emocional aos praticantes deixando, desta forma, a proposta da realização do exercício físico como um suplemento terapêutico, no tratamento de tais transtornos. Ainda, observa-se que o uso do exercício físico mostra-se como importante fator de proteção na melhoria da autoestima, sensação de prazer e interação social. Por fim, vale salientar que, a prática do exercício físico, devidamente monitorada por profissional da área, não apresenta nenhum tipo de contraindicação além de promover efeitos colaterais como melhora sobre parâmetros crônicos como diabetes e hipertensão (recorrentes em vários depressivos e ansiosos), e prevenir doenças como o câncer, osteoporose e o AVC."

    O cansaço físico e o abatimento exigem descanso. Mas o verdadeiro descanso não é apenas dormir bem e muito menos não fazer nada, em outras palavras, ficar assistindo à TV ou deitado no sofá o dia todo. Descansar significa mudar de atividade. Uma pessoa que tem uma rotina sedentária descansa mais fazendo algum tipo de exercício; um descanso que, sendo trabalho para o  corpo, gera benefícios para a saúde física e mental. Como os músculos aumentam com exercícios de resistência, o nosso sistema nervoso também se fortalece com qualquer tipo de exercício físico e, consequentemente, as questões psicológicas ficam mais protegidas. Os problemas continuam os mesmos, mas a nossa maneira de encará-los é que se modifica: encaramos a luta com objetividade sem agigantar as dificuldades, arregaçamos as mangas e, com espírito esportivo, tentamos fazer o melhor. Se não der certo na primeira tentativa, reiniciamos a luta e, assim, aprendemos que cair e levantar-se faz parte do jogo. É um  aprendizado que levou muitos atletas à vitória.



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