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Inatividade, grande cúmplice do coronavírus

Promovendo as doenças crônicas, o sedentarismo ou inatividade física pode ser considerado um grande aliado do coronavírus
fonte: technologyreview.com

"A taxa de mortalidade por coronavírus é até nove vezes maior entre pessoas com alguma doença crônica quando comparada à de pacientes sem patologia preexistente... a principal explicação por trás do risco é a resposta imunológica deficiente do organismo. Isso porque, como não há tratamento ainda para a infecção por coronavírus, as células de defesa do paciente é que precisam trabalhar para eliminar a ameaça. Nas pessoas com sistema imunológico enfraquecido, o corpo não consegue ter uma resposta igual à de uma pessoa saudável. Essas pessoas têm uma alteração na imunidade celular e nos processos inflamatórios. Geralmente elas já têm um ou mais órgãos comprometidos, sem funcionar adequadamente. Quanto tem um processo inflamatório, esse órgão pode ser demandado ainda mais e não dar conta, explica a médica Dra. Nancy Cristina Junqueira Bellei, doutoura em infectologia e professora da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp."(Jornal O Estado de São Paulo, 5-4-2020)
Detalhe do vírus que ataca as células humanas e provoca  a doença chamada  coronavírus ou Covid 19(do inglês Coronavirus Disease 2019)

   O surto de coronavírus vem alarmando a Saúde, os mercados... e as pessoas. Por outro lado, muita gente desconhece que o sedentarismo é considerado o quarto maior fator de risco de mortes no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).Três em cada 100 mortes registradas, em 2017, no Brasil podem ter sido influenciadas pelo sedentarismo. Dados do Ministério da Saúde, apontam que dos 1,3 milhão de óbitos registrados em 2017, 34.273 mil estão relacionados às doenças como o diabetes, o câncer de mama e o de cólon e cardiovasculares, doenças que estão relacionadas à falta de atividade física. Para nos protegermos do coronavírus bem como de outras doenças infeciosas temos, em primeiro lugar, que cuidar habitualmente da saúde. E o que significa isso? Significa ter hábitos saudáveis como alimentação balanceada, moderação na bebida e adotar um programa regular de exercícios. Para compreender melhor a importância do exercício na saúde do ser humano, pesquisadores portugueses tentaram aprofundar no que chamaram "fisiologia da inatividade" com o intuito de demonstrar que o ser humano é ativo no seu estado normal; o sedentarismo ou inatividade é uma anomalia dos tempos modernos, em que a industrialização promoveu um grande conforto e automação, o  que poderia nos conduzir a um estado pré- clínico ou mesmo clínico de expressão de condições de doenças crônicas. Esse estado de inatividade legitimado pelo conforto é o grande aliado no trabalho de levar à morte as vítimas de doenças como o coronavírus. Vamos compreender melhor essa realidade através do artigo Fisiologia da inatividade, um novo paradigma para entender os efeitos benéficos da prática regular de exercício físico em doenças metabólicas, cujos autores são Ricardo Silvestre, pesquisador da Universidade de Connecticut, Estados Unidos; Pedro Baracho, pesquisador do Instituto de Pesquisa de Medicamentos, que faz parte  da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa,  Portugal; e Pedro Castanheira, professor da "Associação educativa Oficinas de São José", Lisboa, Portugal. 

Qual seria o risco do sedentarismo ou inatividade física?

"O Homo sapiens ainda é uma espécie que se caracteriza por um metabolismo adaptado a um estilo de vida onde predominavam as atividades físicas de caçadores que não sofreram nenhuma alteração significativa durante 10 000 anos. De facto, o sedentarismo é um estado anormal para um genoma programado para responder a uma estimulação fisiológica e metabólica resultante da realização de exercício físico. A condição de inatividade física pode muito facilmente ultrapassar uma situação de ausência de risco para desenvolver complicações metabólicas e criar doenças."

Quais seriam essas doenças? 
"1) A inatividade física aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2 em indivíduos com peso considerado saudável 
2) É consensualmente aceito que a inatividade física é um fator de risco para o desenvolvimento de doença coronária e pode ainda diminuir a capacidade cardiovascular e a circulação coronária 
3) devido à ausência de gasto energético proveniente da prática de exercício físico, pode ocorrer a dislipidemia. A dislipidemia é uma doença que se caracteriza por anomalias nos níveis de lípidos (gorduras) no sangue, principalmente do colesterol total e dos triglicéridos. (Triglicérides são as principais gorduras do nosso organismo e servem como uma reserva de energia. Mas se você tem um nível alto no sangue, isso pode aumentar o risco de uma doença cardíaca e outros problemas de saúde). 
4) tem sido explorado cada vez com mais interesse o impacto que a inatividade tem ao nível do processo inflamatório generalizado que se sabe estar na base de muitas das doenças tanto metabólicas (resistência à insulina, diabetes tipo 2, síndroma metabólico) como cardiovasculares (hipertensão, aterosclerose)." 

Qual seria a definição de sedentarismo? 
"A palavra «sedentário» deriva da palavra latina «sedentarius», que significa «aquele que se senta.» Sedentarismo é considerado como a ausência de uma atividade física igual ou maior a 30 minutos de atividade de intensidade moderada. Esta é a definição consensual por parte do Colégio Americano de Medicina Desportiva (ACSM) que recomenda «a acumulação de pelo menos 30 minutos de atividade de intensidade moderada de preferência todos os dias da semana»." 

A conscientização de que a condição normal do ser humano exige praticar exercícios regularmente é o grande salto para ganhar saúde
fonte:.nationalhealthexecutive.com


Existem pesquisas que relacionam inatividade e doenças?
"Num estudo realizado nos Estados Unidos, um total de 91% dos casos de diabetes tipo 2 e 82% dos casos de doença coronária eram atribuídas ao sedentarismo, entre outros fatores explicativos como o índice de massa corporal elevado, dietas com elevado teor de gorduras saturadas, carga glicêmica elevada e tabagismo. Estudos como estes alertam para o facto de que a maioria das mortes nos Estados Unidos tem uma origem comportamental, sendo que a inatividade física é a terceira causa destes resultados."

O que é necessário para não ser sedentário e o que isso propicia para a saúde?
"Indivíduos que se envolvem em programas que obtenham os objetivos da ACSM ou seja, o suficiente para gastar 200 calorias por dia em atividade física, têm uma elevada probabilidade de não desenvolver complicações metabólicas." 

Sair do sedentarismo e adotar um programa de exercícios tem sido uma tendência da sociedade moderna? 
"Não são essas as tendências que se observam na sociedade moderna, onde não só a prevalência da prática de exercício físico não está aumentando como a promoção dos benefícios da prática de exercício não é suficiente para motivar o cidadão menos informado." 

E qual seria o cerne dessa falta de informação? 
"Os benefícios do exercício e da atividade física não são completamente explorados, devido a uma percepção (errada) de que o sedentarismo é um estado natural para o organismo humano, acompanhado de uma ideia que a prática de exercício ajuda a resolver problemas que acontecem independentemente dessa condição de sedentarismo. É aqui que reside o principal problema. É a inatividade física que na maior parte dos casos causa a expressão genética que será a principal causa para o desenvolvimento das doenças."

O exercício físico deve fazer parte da rotina; se não é possível exercitar-se ao longo do dia é necessário determinar um horário específico
fonte: recreatief.nl


Seria possível explicar melhor essa questão? 
"Na ausência da prática de exercício, existe um subaproveitamento do fenótipo normal, ou seja, um fenótipo onde os nossos genes se encontram em estado ótimo para promover um estado saudável, para um fenótipo pré-clínico, ou até mesmo clínico de expressão de condições de doenças crônicas. Assim, estaremos mais próximos de entender a extensão do problema da epidemiologia das doenças ditas de sociedades desenvolvidas, se consideramos a inatividade como um fator direto para o aparecimento e desenvolvimento de doenças crônicas e não um fator auxiliar." 

Seria necessária uma ênfase maior na questão dos benefícios da atividade física? 
"À medida que a medicina e as disciplinas relacionadas com o estudo do corpo humano avançam para um mundo onde o genoma passará a ser uma das disciplinas de estudo para o diagnóstico e tratamento de doenças, importará conhecer melhor qual o efeito da fisiologia do exercício a nível do funcionamento dos genes, células, tecidos, e interações que possam existir com outros comportamentos como, ingestão alimentar, hábitos nocivos, questões emocionais, medicação, etc." 

Quais seriam as conclusões sobre a relação inatividade e doenças? 
"Estaremos mais próximos de entender a extensão do problema da epidemiologia das doenças ditas de sociedades desenvolvidas, se consideramos a inatividade como um fator direto para o aparecimento e desenvolvimento de doenças crônicas e não um fator auxiliar. Esse raciocínio pode ser estendido para a fisiologia da inatividade, onde esses mesmos indicadores podem ser a evidência de uma ausência de ativação de genes, com resultado em sinalização química não ótima, que por sua vez causa um funcionamento celular ineficiente com problemas associados a esse mau funcionamento, tais como, resistência à insulina, dislipidemia, inflamação, com os efeitos nefastos sobejamente conhecidos."
Começar a correr parece difícil para algumas pessoas; é uma questão de começar em ritmo mais moderado e, aos poucos, ganhar condicionamento
fonte: thelifeco.com
 

 Talvez façamos muito alarde sobre uma doença, quando, na verdade, deveríamos tentar manter a calma para poder refletir e tomar os cuidados necessários e, dentro do possível, evitar a contaminação. Por outro lado, observamos que muita gente que tem um estilo de vida sedentário não fica alarmada diante dos riscos que esse comportamento gera nem diante das doenças que pode desencadear. E o que falta então? Conscientização, através dos profissionais de saúde que precisam dar maior ênfase à prevenção das doenças e aos cuidados habituais de saúde; e através dos meios de comunicação, com documentários e campanhas para promover a saúde da população, apontando a necessidade de adotar uma dieta saudável e um programa regular de  atividade física. Uma população saudável é uma frente de batalha muito mais resistente a qualquer tipo de vírus.




















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